Friday, October 19, 2007

UM FIDALGO BONAPARTISTA




Na Revista Notícias de Sábado Torcato Sepúlveda fez uma leitura muito inteligente do meu livro,

da qual me permito-me fazer um pequeno excerto:


"Que razões podem ter levado Pedro de Alneida Portugal, terceiro marquês de Alorna a juntar-se aos exércitos napoleónicos aquando das Invasões Francesas?

.....


"Num tempo agitado, varrido pelas Invasões Francesas o marquês teve a lucidez de perceber que a desgraça bateria às portas de Portugal" ... " A sua ideia passou a ser, assim, a criação de um exército forte. E foi essa ideia aquecida ao forte lume do seu anti-inglesismo, que levou Pedro de Almeida Portugal a apoiar a entrada dos franceses em Portugal" ... "Isto é, um grande fidalgo português transformou-se, por causa dos desgostos que o atraso da pátria lhe causavam, num tecnocrata das armas; quis reformar Portugal com o tratamento de choque da invasão estrangeira. Morreu triste no Norte da Europa.

Este interessante livro de José Norton sofre de um mal que vem atacando a literatura portuguesa actual: quando começa a parecer ficção avança com argumentos ensaísticos; e quando assenta arraiais no ensaio, guina para a ficção."


Deu-me 4 estrelas em cinco. Nada mau!

A MALDIÇÃO no Jornal de Letras

Este foi o resultado de uma conversa com Rita Silva Freire do "Jornal de Letras"

A maldição dos Távora
Por Rita Silva Freire

Pedro de Almeida Portugal era ainda uma criança quando viu a sua família ser perseguida pelo Marquês de Pombal. Os avós, os Marqueses de Távora, foram executados em Belém. O pai, encarcerado no Forte da Junqueira. A mãe e as irmãs fechadas no convento de Chelas. Afastado da família, o jovem Marquês de Alorna teve, no entanto, alguém a cuidar da sua educação. Nem mais, nem menos que o próprio Marquês de Pombal. É a biografia de Pedro de Almeida Portugal que José Norton, 62 anos, relata em O Último Távora, desde a sua infância, até às invasões francesas. O autor, a par da sua carreira como economista, tem um grande interesse em História, tendo já assinado as biografias do general Norton de Matos e de Pina Manique. Escreve ainda sobre História e Antiguidades no Expresso.
Como surgiu a ideia de escrever a biografia de Pedro de Almeida Portugal?
Pensei escrever sobre Gomes Freire de Andrade, que era companheiro de armas e amigo do Marquês da Alorna. Ambos embarcaram na grande aventura que foi o contingente militar português que se juntou às tropas de Napoleão, em 1808. Mas, de repente, abandonei o Gomes Freire e comecei com o Marquês de Alorna. Para além da sua história se ler como um romance, revela uma quantidade de factos que vão surgir aos olhos das pessoas como coisas nunca vistas, nem ouvidas, em relação à participação portuguesa nas invasões francesas, como a adesão de grande parte da nobreza portuguesa ao ideário francês. Além disso, encontrei uma grande riqueza de fontes para o Marques de Alorna, nomeadamente no que se refere à sua infância. Vim a descobrir que era neto dos Távoras, e que sobreviveu à hecatombe que caiu sobre a sua família e que acabou por ser, em certa medida, protegido indirectamente pelo Marquês de Pombal, o grande responsável pelos execuções dos Távoras e pelas prisões dos próprios pais de Pedro Almeida Portugal. Tudo isso cria um enredo extraordinário, em que a realidade ultrapassa a ficção.
É contraditório que o próprio Marquês de Pombal tenha ajudado na educação de Pedro de Almeida Portugal?
O Marquês de Pombal reformou o ensino em Portugal e criou o Colégio dos Nobres. Mas a grande aristocracia não apoiava estas reformas. Assim, quem acabou por ir para este colégio foram filhos de amigos do Marquês e filhos dos Távoras que estavam presos. O Marquês de Pombal queria mostrar que a nobreza tinha lugar na sociedade, desde que virada para a educação e o bem público. E claro, que tinha aderido aos seus projectos. Para isso usou Pedro de Almeida Portugal como exemplo.
O que mais admira em Pedro Almeida Portugal?
O que mais admiro é uma situação que se pode dizer que muita gente também viveu com o 25 de Abril. É um homem que vive uma época de mudança. Tem um pé na tradição aristocrática, mas tem também uma educação profundamente iluminista, virada para o futuro. E no fim de contas acaba por ser vitima dessa dualidade. Este homem teve uma vida trágica. O leitor vai materializar o que muita gente falou como tendo sido a maldição dos Távora.

Sunday, October 14, 2007

NOVO BLOG SOBRE TÁVORAS

Surgiu há poucos dias SAGATAVORA

EGA - COMENTÁRIO E ESCLARECIMENTO


Vou incluir aqui e se for caso disso responder a comentários que chegam até mim sobre "O ÚLTIMO TÁVORA".


Zé,
Li este fim de semana o t/ livro.
Não vou dizer que o fiz de um fôlego, como se de um romance se tratasse, bla bla bla.
Li, sim, um livro que me deu enorme prazer ler; que dá a quem o lê uma visão vivida do que foram aqueles desgraçados tempos; que descreve com grande fidelidade (creio) os problemas com que as elites de então se confrontavam, como elas os interiorizavam e resolviam - quase sempre de maneira canhestra, atabalhoada, preguiçosa.
Apercebi-me que nestes últimos 200 anos a Terra deu muitas voltas, e as nossas elites também. Mas contrariamente à Terra, as nossas elites não tiveram movimentos de translação: giraram sempre os 360º da praxe, para darem a ideia de que se moviam, mas acabavam sempre a olhar para o mesmo sítio.
E, para minha grande surpresa, avistei, nas entrelinhas, o espírito republicano do autor. Ah!
Em conclusão: um bom livro, que apetece relêr de quando em vez, que tenho recomendado a torto e a direito - com o senão de o trabalho de revisão editorial ter deixado passar, aqui ou ali, uns pecadilhos linguísticos e uma inexactidão histórica (a monarquia espanhola, ainda que de origem francesa, assumiu, desde cedo, a denominação castelhanizada de Borbón).
Duas perguntas, no final: A condessinha da Ega, sobrinha do infeliz marquês, é a mesma que morre princesa russa? O que foi da pobre Henriqueta?
Parabéns!
Abraço


A condessinha é a mesma e a marquesa coitada não ficou sempre no convento, foi ultrapassada pela cunhada Alcipe nos esforços para reabilitar o marquês e reaver os bens e morreu nos anos vinte.




Sobre a condessa de Ega escrevi o seguinte no Expresso

Stroganoff
Uma colecção de arte com História de Portugal



Poucos escrevem correctamente a palavra, mas qualquer pessoa com cultura gastronómica média sabe do que se trata. A receita é mais ou menos assim: faz-se um refugado na panela e vai-se juntando sucessivamente carne de vaca (quem pode usa lombo), um pouco de polpa de tomate, cogumelos e no fim as natas. Serve-se com arroz. É um Stroganoff.
Pode imaginar-se que se trata do nome de um grande cozinheiro russo que recusando pôr os seus dotes ao serviço das “vítimas da fome” rumou a Paris depois da revolução de Outubro, distinguindo-se entre os maiores da sua arte. De facto, a receita como não podia deixar de ser, foi inventada por um cozinheiro, que era russo, mas Stroganoff era o nome dos patrões.
Oriundos de Novgorod, coração da antiga e santa Rússia, os Stroganoff eram no século XVIII a família mais rica do Império dos Czares. Quando Pedro o Grande começou a fazer de S. Petersburgo uma capital “à europeia” os Stroganoff encomendaram a um arquitecto italiano, Rastrelli, a construção do magnífico palácio barroco que ainda hoje existe na margem de um dos canais da cidade. Cultos, viajados e atentos às Luzes, coleccionaram arte e objectos preciosos da antiguidade clássica. Foram também mecenas de artistas seus contemporâneos: mandaram executar bustos de Voltaire e Diderot ao escultor Jean Antoine Houdon, por exemplo. Na galeria de pintura reuniram mais de cem quadros dos melhores pintores de sempre: Van Dyck, Rembrandt, Michelangelo, Luca Giordano, Goya e Velasques. Tal como a sua fortuna, a colecção Stroganoff era também a mais importante da Rússia.
Com a revolução de 1917 o palácio de S. Petersburgo foi transformado em museu, vindo a ser fechado em 1920 e o recheio espalhado por vários museus: o Hermitage, o Museu de Leninegrado e o Museu Pushkin de Belas Artes em Moscovo. Pelos anos trinta, numa situação de aperto, o camarada Staline mandou vender em leilão, na Alemanha do seu ainda amigo Adolfo Hitler, uma parte da colecção. Daí que, por exemplo, o quadro “Jeremias Lamentando a Destruição de Jerusalém” de Rembrandt, se encontre presentemente no Rijksmuseum de Amsterdam.
Agora que já conhecemos alguma coisa dos Stroganoff e da sua colecção é altura de saber o que tem tudo isso a ver com a História de Portugal.
Em 1800, Juliana de Almeida, filha da que viria a ser a marquesa de Alorna, casou com o conde da Ega (nome de uma pequena povoação da região de Coimbra), então viuvo e muito mais velho, pois ela pouco passava dos dezasseis anos. Naquele tempo as mulheres que casavam, faziam-no quase sempre por interesse ou necessidade das famílias.
Pouco depois o conde, de seu nome Ayres José Maria de Saldanha e Albuquerque, foi nomeado embaixador em Madrid. Aí ficou o casal até Outubro de 1807 quando já o exército francês, apoiado pelos espanhóis, iniciara o avanço sobre Portugal, para concretizar a ocupação a que se chamou 1ª Invasão Francesa. Naqueles momentos aflitivos para o trono de Portugal e seus ministros ninguém quis saber dos pontos de vista do ex embaixador em Madrid, o que o terá deixado bastante despeitado. Logo que, na sequência da partida de D. João VI para o Brasil, um Junot todo poderoso se instala em Lisboa, o conde tornou-se no mais visível e dedicado partidário dos franceses. Menos de um ano depois, quando a sorte se virou contra estes e ficou claro, depois das batalhas da Roliça e Vimeiro, que seriam expulsos de Portugal, Ega receou justificadamente pela sua vida e refugiou-se a bordo de um navio que o levou a França. Exilado em Paris, Napoleão evitou que caísse na miséria atribuindo-lhe uma elevada pensão.
Os anos passaram e na primavera de 1811 a jovem condessa de Ega, de saúde débil, foi até Florença como agora dizem alguns, fazer um “spa”, ou seja, foi a águas.
Tudo leva a crer porém que fosse no seu jovem e ardente coração que o problema se encontrava. Quis o destino atravessar-lhe nos caminhos de Itália aquele que havia de a curar de todos os males.
“Um anjo tutelar, o melhor dos amigos, Mr. de Stroganoff veio em meu socorro”, escreveu ela a sua mãe. Grigori Alexandrovitch, barão e futuro conde de Stroganoff, era um velho conhecido seu de Madrid onde também estivera como embaixador do Czar.
Foi uma mudança vertiginosa na vida de Juliana. Não deixou, porém, de ser condessa, pois de Ega passou a Stroganoff, e tanto bem à saúde lhe fez a troca, que viveu oitenta e dois anos, morrendo em 1864 naquele belo palácio de S. Petersburgo no meio da maior colecção de arte da Rússia.

Friday, October 12, 2007

Sessões de autógrafos - Coruche e FNACOLOMBO

Agora vai começar o que os anglo saxónicos chamam de road show.
Eu, como bom neófito estou excitadíssmo.
No dia 15 vou a Coruche. Festas municipais com Feira do Livro às 21 horas.
No dia 1 de Novembro estarei à tarde na FNAC. Só à tarde porque a Mariana Norton, minha filha dá um concerto com o seu grupo de Jazz na Livraria Ler Devagar no Braço de Prata.

Tuesday, October 09, 2007

TOP TOP TOP


Que tem isto a ver com o marquês de Alorna, "O Último Távora"? Isto não é o Flickr ...
Nada a ver. É uma vergonha. Há cinco dias que não escrevo!

Primeiro tive de ressaca, mas agora não tenho desculpa ... ou tenho.

Passei dois dias no Minho de papo para o ar. Até fiz fotos como esta que abre a mensagem de hoje. Foi bom desanuviar porque a semana começou em cheio.
Segunda feira entrevista para "À volta dos Livros" por Ana Aranha. Com um fim de semana tão bom ia-me esquecendo. Cheguei mesmo à hora. Sai na sexta feira próxima.
E também me tinha esquecido do colóquio internacional sobre a Saída da Corte para o Brasil organizado pelo Arquivo Histórico Ultramarino. Enfim, dois dias cheios.
Chego a casa vou à internet e que vejo? O "Último Távora" está no TOP do Corte Inglês.
Pouco depois um familiar diz-me que também está no TOP da Boulhosa de Oeiras.
Para mim é fantástico.
Tenho de agradecer a tanta gente!!

Thursday, October 04, 2007

LANÇAMENTO

Foi no dia 2 mas ainda estou de ressaca!
O dia mais longo ... dos últimos dias!
Comecei a ser entrevisrado pelo Francisco José Viegas para o programa Escrita em Dia (oiça aqui) ao fim da manhã. Voltei para almoçar em casa e depois fazer uma soneca mas ...é o dormes.
Nervoseira até às 8 da noite hora a que a que me sentei à mesa para um belo jantar oferecido com toda a simpatia e melhor hospitalidade pelo Presidente da Fundação das Casas Fronteira e Alorna, Fernando Mascarenhas. Garganta apertada e vontade de que o jantar fosse eterno.
Mas não foi. Às 9 começaram a chegar pessoas. Fotografias, entrevistas, mais fotos e de repente estava ali diante de 180 pessoas a falar.
Foi um êxito!
Eis, escrito na passada aquilo que mais ou menos tentei dizer:

"Não posso deixar de começar pelos agradecimentos.

Em primeiro lugar à Fundação das Casas Fronteira e Alorna na pessoa do seu presidente.

O agradecimento é extensivo a todos os membros da família Alorna aqui presentes muitos dos quais me deram inestimáveis ajudas para concretizar o projecto deste livro.

Para a editora D. Quixote, e a todos os que com o seu trabalho contribuíram para eu poder estar agora aqui a falar sobre “O Último Távora”, a equipe , e para a Maria João aqui ao meu lado que agarrou o livro num fim de semana com um irresistível entusiasmo.

Finalmente quero agradecer a todos os presentes. São amigos, conhecidos, e até desconhecidos que hoje vão deixar de o ser. Todos ajudaram a que este lançamento fosse um sucesso e vão ajudar a que o meu livro seja um êxito.

Esqueci-me de referir os meus amigos do golf a quem também quero agradecer. Espero que eles possam dizer depois de lerem o livro – O Norton escreve melhor do que joga – sei que não é difícil, mas sempre é melhor que dizerem: Bolas, escreve tão mal como joga.
Falando de desporto não posso esquecer os amigos que deixaram de ver o Sporting para me ver a mim. E perdoar aos que preferiram o jogo...

Por falar em êxito… chegou a altura de vos apresentar o livro. É o primeiro passo … na senda do êxito.

Para os lançamentos habitualmente depois de muito pensar convida-se um apresentador a quem cabe a tarefa de fazer uns elogios ao autor e à obra, outras vezes só o autor, certos casos haverá em que nem uma coisa nem outra. Enfim, tarefa ingrata que por vezes pode acabar numa irresistível sonolência colectiva.

Desta vez, por acordo pacífico entre os membros desta mesa, ficou estabelecido que não havia apresentador, ou seja … cabe-me a mim dizer bem do meu próprio trabalho o que farei com gosto, sem vergonha nem cerimónia. Seja o que Deus quiser!



“O Último Távora” lê-se de um fôlego. Como se fosse um romance.

Quem o diz é quem já o leu e isso é reconfortante.

Mas não foi fácil.

Estive várias vezes para abandonar o projecto já com grande parte da investigação feita. A certa altura o livro estava uma seca. Não passou no crivo das minhas irmãs que sempre são condescendentes com o irmão mais novo. E a Cristina, minha mulher, escritora de imaginação e talento, essa não quis de saber de mais novo ou mais velho: cilindrou-me.

Já não sei como me surgiu a ideia dos diálogos. O meu livro não tinha de ser um trabalho académico, nem um exame de história ainda que pretenda ser rigoroso. Por isso achei que tinha toda a liberdade de dar-lhe a forma que muito bem entendesse. E qual não foi o meu espanto quando percebi que os diálogos não só me saíam com facilidade como continham neles aquilo que me levaria páginas a explicar se a linguagem fosse outra: tudo ficou claro e simples em benefício dos leitores sem assassinar a História. Claro que isso só foi possível depois de ler uma e muitas vezes a correspondência abundantíssima e a enorme quantidade de livros que consultei. Uma trabalheira, agravada pelo facto de ser pouco metódico. Uma espécie de puzzle.

Mas dominadas que foram as fontes, os diálogos saíram fáceis e verosímeis e sem esforço o leitor percebe as grandes linhas do contexto histórico. Tudo ficou mais leve. E em muitos casos reproduzo frases que não tendo sido ditas foram escritas pelas personagens que pus a dialogar.




Mas o que é o livro?
Não é só uma biografia.

É a história de um homem invulgar. Invulgar em primeiro lugar pelas circunstâncias da sua vida.

- Era bebé de colo quando a casa onde vivia é destruída pelo terramoto de 1755.

- Três anos depois, o processo dos Távoras leva-lhe Avós tios e primos de uma maneira horrorosa e afasta dele durante dezoito anos a família mais próxima.

- É nesse tempo tutelado por um dos homens mais célebres da História de Portugal, e ao mesmo tempo o carrasco da família: o marquês de Pombal.

- Por outro lado foi protegido pela amizade de outro homem que ficou na memória dos portugueses, e uma surpresa completa na minha investigação: o conde dos Arcos imortalizado por Rebelo da Silva na sua também “Última Corrida de Touros em Salvaterra” que por casualidade foi em Samora Correia ali ao pé. Salvaterra é nome mais bonito que Samora Correia.

- Participa como militar na campanha da Guerra das Laranjas em que perdemos Olivença.

- É envolvido de alguma maneira em três acontecimentos que marcaram o princípio do século XIX:
A conspiração dos nobres
A conspiração de Mafra – Carlota Joaquina que era traquina.
Os tumultos ou a revolta militar de Campo de Ourique.

- É nomeado e desnomeado Vice Rei do Brasil

- Perde em circunstâncias arrepiantes os seus dois filhos. O drama pessoal é aumentado pelo facto de ficar assim privado de perpetuar no seu sangue a casa que herdara dos Pais e Avós.

- Em 1808 deixa Portugal à frente das forças portuguesas que se vão juntar aos exércitos de Napoleão.

- Entra em Portugal com o exército de Massena na 3ª invasão francesa, esbarrando nas defesas das Linhas de Torres.

-Volta para França condenado à morte pela justiça portuguesa e finalmente, integrado na Grande Armée vamos encontrá-lo como governador militar de uma cidade da Lituânia, Mogilev, uma praça forte.

- Depois são os quarenta dias da penosa retirada em que o maior inimigo foi o implacável Inverno Russo.


Creio que hão de concordar tratar-se de uma vida invulgar.
Para mim foi uma investigação apaixonante.

Mas há mais. Alorna foi um homem maltratado.

Era por sua natureza generoso, cheio de vontade de servir a monarquia e o seu país. Mas todas as culpas lhe caíram em cima. Despertou ódios – particularmente o ódio de classe.

Foi envolvido pela intriga: tanto em Portugal como depois ao serviço dos franceses, intrigas urdidas pelos seus próprios subordinados e companheiros de armas portugueses:
É altura de lembrar que Alorna não foi sozinho para França. Revelo neste livro, tema delicado e envolto no esquecimento, que com ele foram muitos oficiais superiores da Grande Nobreza e não só, que viriam mais tarde a abraçar a causa constitucional e liberal: Pamplona, marquês de Loulé, marquês de Valença, Cândido Xavier – braço direito de D. Pedro IV no cerco do Porto - entre outros.

Ódio, Intriga. Só falta em relação à capa do livro uma palavra: tragédia.

Alorna, protagonizou-a e de que maneira.

Parecia de facto que uma maldição o perseguia, a maldição que fulminara os Távoras, que sobre ele se foi renovando e que como uma Hidra de sete cabeças o foi embuscando em cada passo da sua vida.


Finalmente vamos perceber que “O Último Távora” não é só um título apelativo para chamar a atenção dos ávidos consumidores de teorias da conspiração.

Vou apenas referir dois factos.

Por um lado foi o marquês Pai quem conseguiu que os Távoras viessem a ser ilibados. Não quis sair da prisão enquanto não tivesse garantia de o caso ser re-aberto. Por outro, Pai e filho empenharam-se em proteger e tentar recuperar a posse dos bens para o filho do Duque de Aveiro, outro Távora.

Mas mais impressionante é que quase 50 anos depois das execuções o marquês de Alorna ainda era atacado por ser Távora.
Leio na íntegra uma passagem de carta anónima escrita em 1802 e que refiro no livro:
“O espírito perverso, que fez cúmplice no horroroso e sacrílego atentado cometido contra o rei D. José ao avô do marquês de Alorna, renasce neste moço imprudente e ímpio. A lembrança da execução com que a justiça daquele monarca rectíssimo deu ao seu povo uma satisfação pública dos infames crimes dos seus parentes, mas que ele considera como crueldade e tirania, desperta no seu coração o desejo de vingança. E a soberba com que olhando como igual a casa de Bragança, repugna dobrar o joelho ao seu príncipe, e faz conceber-lhe o intento de destroná-la”.

Mas último tem a ver com fim.

Com Alorna, morreu também em Portugal uma época.

A longa batalha que começara com o marquês de Pombal, alimentada depois pelos ventos da Revolução Francesa estava decidida quando Alorna morre. Mas foi para ele demasiado dolorosa. As grandes mudanças político-sociais são terríveis para quem nelas participa com intensidade.
Para Alorna foi dilacerante. Ele tinha ao mesmo tempo um pé na tradição aristocrática enquanto o outro assentava numa educação das Luzes. Dominava-o uma ânsia de servir no sentido da responsabilidade social e da utilidade pública. Era amigo de Gomes Freire não esqueçamos, ainda que não fosse maçon.

Acabou porém, sozinho, abandonado pela sua classe e desprezado pelos partidários das ideias constitucionais, varrido pelos chamados ventos da História.

E com ele acabou o Antigo Regime de que os Távoras foram um dos últimos e máximos expoentes.

Por isso, e independentemente dos argumentos genealógicos, discussão em que não pretendo entrar, foi, para mim, “O Último Távora”


Finalmente quero dizer que em alguns aspectos o livro deixa portas abertas à interpretação de cada um. E algumas coisas não ficam totalmente explicadas. Talvez que um dia novas fontes, arquivos ainda por explorar nos venham esclarecer.
Mas há explicações que estão escondidas na própria natureza dos homens.
A esse propósito há uma questão que muitos já se colocaram a propósito das Invasões Francesas e do percurso de Alorna e que tem a ver com uma palavra dura e feia, traição.

Leiam o livro e talvez no fim lhes custe, tanto quanto me custa a mim, proferir essa palavra traição.

------------------



Não vejo ninguém a dormitar e acho que consegui dizer bem do meu livro. Não me saí mal.

Muito obrigado."
Tal qual. Foi assim, a Zita Seabra que me desculpe o plágio...
Quando tiver ponho fotos.