No último sábado estive na Feira do Livro e aconteceu-me um
episódio que passo a contar e que mais uma vez me provou que uma investigação biográfica
está sempre em aberto.
Voltemos atrás no tempo.
Nos anos 50 do século passado Ângelo Pereira publicou no seu
livro “D. João VI, Príncipe e Rei” (p.211) uma longa carta de Juliana para a
irmã Luisa, que por minha vez reproduzi parcialmente em “Juliana, Condessa
Stroganoff”. Pertencia segundo aquele autor à sua colecção.
Durante mais de cinquenta anos nada se soube do paradeiro
dessa carta (e de muitos outros documentos que A.P. reproduziu). Há uns quantos
meses soube que tinha sido vendida em leilão. Qual não foi a minha surpresa
quando o actual proprietário, um iluminado coleccionador, teve a simpatia de se
me dirigir na Feira do Livro informando-me da sua existência. Fiquei emocionado
e agradecido. Mas havia mais surpresas.
Ele tinha ainda outra carta de Juliana. E o texto desta, datada
de S. Petersburgo em 10 de Novembro de 1839, era-me completamente desconhecido.
É uma carta pesarosa, escrita depois de ter sabido a notícia, que durante algum
tempo lhe tinha sido escondiada, da morte de sua Mãe, a Marquesa de Alorna.
“Sofro em mim e sofro dobrado nas manas”, escreveu então
Juliana.
A sua dor, coitada, transformou-se para mim em surpresa e
alegria, circunstâncias que fazem da investigação uma actividade tão exaltante.