Este foi o resultado de uma conversa com Rita Silva Freire do "Jornal de Letras"
A maldição dos Távora
Por Rita Silva Freire
Pedro de Almeida Portugal era ainda uma criança quando viu a sua família ser perseguida pelo Marquês de Pombal. Os avós, os Marqueses de Távora, foram executados em Belém. O pai, encarcerado no Forte da Junqueira. A mãe e as irmãs fechadas no convento de Chelas. Afastado da família, o jovem Marquês de Alorna teve, no entanto, alguém a cuidar da sua educação. Nem mais, nem menos que o próprio Marquês de Pombal. É a biografia de Pedro de Almeida Portugal que José Norton, 62 anos, relata em O Último Távora, desde a sua infância, até às invasões francesas. O autor, a par da sua carreira como economista, tem um grande interesse em História, tendo já assinado as biografias do general Norton de Matos e de Pina Manique. Escreve ainda sobre História e Antiguidades no Expresso.
Como surgiu a ideia de escrever a biografia de Pedro de Almeida Portugal?
Pensei escrever sobre Gomes Freire de Andrade, que era companheiro de armas e amigo do Marquês da Alorna. Ambos embarcaram na grande aventura que foi o contingente militar português que se juntou às tropas de Napoleão, em 1808. Mas, de repente, abandonei o Gomes Freire e comecei com o Marquês de Alorna. Para além da sua história se ler como um romance, revela uma quantidade de factos que vão surgir aos olhos das pessoas como coisas nunca vistas, nem ouvidas, em relação à participação portuguesa nas invasões francesas, como a adesão de grande parte da nobreza portuguesa ao ideário francês. Além disso, encontrei uma grande riqueza de fontes para o Marques de Alorna, nomeadamente no que se refere à sua infância. Vim a descobrir que era neto dos Távoras, e que sobreviveu à hecatombe que caiu sobre a sua família e que acabou por ser, em certa medida, protegido indirectamente pelo Marquês de Pombal, o grande responsável pelos execuções dos Távoras e pelas prisões dos próprios pais de Pedro Almeida Portugal. Tudo isso cria um enredo extraordinário, em que a realidade ultrapassa a ficção.
É contraditório que o próprio Marquês de Pombal tenha ajudado na educação de Pedro de Almeida Portugal?
O Marquês de Pombal reformou o ensino em Portugal e criou o Colégio dos Nobres. Mas a grande aristocracia não apoiava estas reformas. Assim, quem acabou por ir para este colégio foram filhos de amigos do Marquês e filhos dos Távoras que estavam presos. O Marquês de Pombal queria mostrar que a nobreza tinha lugar na sociedade, desde que virada para a educação e o bem público. E claro, que tinha aderido aos seus projectos. Para isso usou Pedro de Almeida Portugal como exemplo.
O que mais admira em Pedro Almeida Portugal?
O que mais admiro é uma situação que se pode dizer que muita gente também viveu com o 25 de Abril. É um homem que vive uma época de mudança. Tem um pé na tradição aristocrática, mas tem também uma educação profundamente iluminista, virada para o futuro. E no fim de contas acaba por ser vitima dessa dualidade. Este homem teve uma vida trágica. O leitor vai materializar o que muita gente falou como tendo sido a maldição dos Távora.
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